segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os livros de meu Avô

Por Marcio Ortiz Meinberg

Nas estantes da casa de meus avós podiam se encontrar de tudo: livros de engenharia, história, gramática, romances policiais, sociologia, economia, filosofia, política, temas de atualidades (atuais na época que foram comprados...), guias de turismo, auto-ajuda, clássicos da literatura Brasileira e portuguesa, agricultura, biologia, genealogia de nossa família, enciclopédia, dicionários (em várias línguas) e até mesmo uma bíblia.

Havia uma estante em que ficavam os volumes mais bonitos, livros de capa dura, encadernados em cores escuras com letras douradas. Na outra estante ficavam os livros de capa flexível, cada uma com sua cor, totalmente desarrumados e misturados entre cores e temas diferentes. Essa estante confusa sempre foi a minha favorita.

Antes mesmo de saber ler, eu cultivava o hábito de piorar a bagunça daquela estante, pois acreditava que a velha casa de meus avós guardava um tesouro escondido e que o mapa provavelmente estaria atrás de alguma tábua solta entre os livros.

Minha mãe sempre me contou histórias da época da Ditadura, quando meu avô corajosamente escondia comunistas e perseguidos políticos e os auxiliava na fuga. Minha mãe contou a história das ameaças que a família recebeu do facínora Cel. Erasmo Dias, que nunca perdoara meu avô por ter denunciado as violências da invasão da PUC-SP pelas tropas da repressão. A história que mais me fascinou foi a do pequeno livrinho vermelho que meu avô trouxe da China e que escondia cada vez em um cômodo da casa. Sempre tive vontade de encontrar aquele livrinho!

Quando fiquei mais velho, comecei a saquear os livros de meu avô. Primeiro tomei emprestados alguns volumes da Barsa, depois peguei todos os volumes do dicionários inglês-português e português-inglês, li a maioria dos romances até que um dia comecei a ler sociologia. Visitando a estante bagunçada, encontrei alguns livros que ficavam mais ao fundo, bem fora da vista, quase que escondidos (ou escondidos mesmo, por que não?). Pedi permissão a meu avô para levar aqueles livros e ele autorizou, desde que não levasse os mais pesados: de Marx e Gregório Bezerra (ele citou ambos expressamente). Tudo bem, levei os de Engels!

Alguns meses mais tarde, após terminar Engels, tomei coragem e peguei também os de Marx e Bezerra. Levei até mesmo O Capital! Foi mais ou menos nessa época que perguntei a meu avô sobre o pequeno e legendário livrinho vermelho. Ele me contou que se tratava do Livro Vermelho de Mao Tse Tung, em versão espanhola, que ele trouxera da China após uma viagem. Quando perguntei onde estava, ele me disse que dera de presente para algum comunista em fuga.

Se algum dia alguém quiser procurar o responsável por minha formação teórica e por minhas convicções políticas-ideológicas, o culpado certamente é meu avô.

Na semana seguinte à morte de meu avô, comparecemos à sua casa para um almoço de família com minha avó. Observando a estante, minha avó me autorizou a pegar todos os livros que me interessassem. Na ocasião, não havia sobrado muita coisa que me interessava, afinal, tinha passado a vida pegando livros daquelas estantes. Mesmo assim, aproveitei para adquirir livros de Malinowsky e Levi-Strauss (que na época sequer saberia dizer qual a área de estudo deles) e um velho volume de Rousseau que eu tinha esquecido de saques anteriores.

Enquanto tirava o pó daqueles livros recém-adquiridos, notei bem na frente, que jazia em cima da uma pilha um pequeno livrinho vermelho. Curioso, peguei para ver sobre o que era (não era muito comum encontrar livros novos naquela estante tão explorada). Qual não foi minha surpresa que o título daquele livrinho vermelho era “Las Citas del Presidente Mao Tse-Tung”.

Após a morte de meu avô, eu finalmente encontrei o pequeno e legendário livrinho vermelho que ele escondia cada vez em um cômodo diferente.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Dois anos sem Horácio Ortiz

Hoje, dia 18 de agosto de 2009 completa-se o segundo ano desde a morte de Horácio Ortiz.

Está em andamento no Gabinete do Vereador Goulart uma proposta de homenagem através da nomeação de um espaço público com o nome de Horácio Ortiz (conforme e-mail do Alan Helú publicado no dia blog dia 17).

Dona Léa recebeu ontem um telefonema do Gabinete do Vereador Goulart informando que a proposta continua em andamento, mas que avaliaram que a pequena praça não seria o melhor lugar para a homenagem. Estão procurando algum outro espaço público a nominação.

CURIOSIDADE: Veja na Página de Internet da Câmara dos Deputados algumas das proposições de Horácio Ortiz como Deputado Federal.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

E-mail do Alan

From: alan.helu@...
To: fabiomeinberg@...
Subject: RE: AUSTRALIAN NEWS
Date: Mon, 13 Apr 2009 10:06:01 -0300

Outra notícia mto importante!!!!

Como todos devem lembrar… entre as ruas taja e tviot na esquina da Av. Antonio Joaquim de Moura Andrade tem uma praçinha nao mto grande… nem mto bem tratada mas que tem lá o seu charme…

Enfim… quem passa por lá sabe que o local se tornou uma moradia para semtetos… e ultimamente alguns marginais andaram se misturando à esses moradores de rua para buscar mais informações para assaltatrem casas da região.

A família Helú à muito tempo vem lutando para tornar aquela praça um local de lazer para os moradores da região. Eis que Hulk resolveu entrar firme na luta para expulsar os marginais da praça e colocar uma cerca com um portão além de realizar um projeto de paisagismo no local.

A primeira grande tacada foi o contato com o Vereador Goulart. Juntos Hulk e Goulart já tiveram grande avanço nessa questão o que pode ser visto num ato inicial para “privatizar” a praça.

Para que os devidos reparos possam ser feitos, a praça deve ser batizada. Surgiram dois nomes e coube ao meu pai escolher qual deles batizaria a praça.

Após uma consulta com o Dr. Wadih Helú foi escolhido o nome de uma grande deputado que dedicou anos de sua vida à sociedade paulistana, o Deputado Horácio Ortiz, vulgo vovô da lacraia

Fica então registrada a homenagem da família Helú à família Ortiz Meinberg.

ABS a todos!

sábado, 23 de maio de 2009

A Caixa d’água da Vila do Encontro

Por Horácio Ortiz

Um caso interessante ocorrido no Jabaquara e resolvido através do empenho de seus moradores e da Sociedade Amigos do Jabaquara. Foi o caso da Caixa d’água da Vila do Encontro e Americanópolis. O bairro de Americanópolis e Vila do Encontro ficam nos pontos mais elevados da Zona Zul em distensão do Jabaquara. E realmente grande parte, os moradores tinham dificuldade porque a rede de água não dava altura suficiente para que as casas mais altas fossem servidas. Depois de muitos pedidos, requerimentos etc da Sociedade, a Sabesp resolveu construir uma caixa d’água, que é a caixa d’água que hoje existe na Avenida Armando Arruda Pereira, chamada Vila do Encontro. Depois de quase 02 anos de briga foi construída a caixa d’água. Terminada a construção, estavam todos interessados na inauguração e aconteceu um imprevisto. A caixa d’água ficava situada no cone de aproximação dos aviões que descem no Campo de Congonha na Zona Sul. Esse cone de aproximação é uma linha reta que surge com 30 graus da cabeceira do Aeroporto e com 30 graus não pode ter edifício nenhum abrangindo naquela altura. Deve ser totalmente livre. E a infeliz torre nossa da Vila do Encontro tinha sido construída acima da linha do cone de aproximação. Foi aquela tragédia. A decepção do bairro todo e ver o quê que iam fazer, se ia demolir. Resolvemos que ia demolir aquilo porque infringia os códigos da Aeronáutica e era um perigo para a descida das aeronaves. Eu fiquei pensando que, a caixa d’água tem uns 20 metros de altura e só três metros atingiu o cone de aproximação. Isso podia dar um jeito sem ser necessário derrubar toda a obra que levou tantos anos e custou tanto dinheiro, aquela torre enorme de concreto. Então eu consultei um amigo e grande engenheiro Paulo Lorena, que era especialista em concreto armado, e coordenador da Divisão de Estruturas do Instituto de Engenharia. Conversei com ele e perguntei se não tinha jeito de diminuir três metros. Ele disse que conforme a estrutura podia ser. E eu disse a ele que se conseguisse isso diminuiria uns 02 ou 03 anos de sacrifício daqueles bairros todos que não tinham água e pedi para ele dar uma olhada. Um dia fomos lá, levamos o engenheiro Paulo Lorena e ele falou:

- A caixa ficou bem acima dessas colunas e essas colunas são bem altas. Eu tenho a impressão que, vai ser uma ginástica, mas podemos tentar abaixar os três metros. A caixa que é o conjunto todo de concreto, a gente calçaria esse conjunto lá em cima e faríamos um cone na cabeceira dos pilares de sustentação  desses 03 metros e abaixaríamos com um macaco esse 03 metros para a caixa d’água ficar abaixo da linha de infração da Aeronáutica. Eu disse:

Ótimo. Vamos fazer um desenho desse negócio e vamos levar na Sabesp.

E assim foi feito. Ele fez um croqui e levamos na Diretoria da Sabesp. Eles não queriam saber daquilo, achando que era um absurdo e queriam demolir tudo. Eu falei que quem tinha feito o estudo era um Professor da Escola Politécnica, grande autoridade em concreto, grande engenheiro e tem mais autoridade do que qualquer calculistazinho da Sabesp. Ele é uma grande autoridade no assunto e isso vai economizar uns ou três anos na solução do problema. Conseguimos então, que o Diretor Geral se sensibilizasse com o problema, naquele tempo nem era Sabesp, era Departamento de Águas e Esgotos – DAE. Ele estudou o croqui do eng. Paulo Lorena, resolveu fazer e colocou em concorrência o rebaixamento do (platô?) da caixa d’água. A caixa d’água em si deveria ser rebaixada com macacos e os pilares seriam recortados em 03 metros. Pôs a concorrência e eu estava lá quase todos os dias o andamento da obra. Depois de uns dois ou três meses, foi rebaixada e ficou no nível que a nossa digníssima Aeronáutica exigia. Foi assim que a nossa caixa d’água da Vila do Encontro foi salva e fio colocada nos termos da Aeronáutica. 

O Grupo Escolar Ângelo Mendes de Almeida

Por Horácio Ortiz

O Grupo Escolar Ângelo Mendes de Almeida, estava com construído atrás da garagem de ônibus do Jabaquara. Era um terreno municipal e o Prestes Maia construiu aquele grupo escolar. Estava pronta a praticamente um ano e aquele tempo no Jabaquara não tinha a rede de água em todas as ruas, isso mais ou menos em 1957, e o Ginásio estava pronto mas não podia funcionar porque não tinha água. O Ginásio funcionava num terreno com uns barracões de madeira, provisório, na Rua Vinte Sete, uma das travessas do Jabaquara. Era um problema porque lá tinha quase 300 alunos naqueles barracões, com o Ginásio pronto. Em reunião da Sociedade Amigos do Jabaquara resolvemos tomar alguma providência, e ficava difícil porque o problema era que a rede de água não passava lá. Um dia conversando com um funcionário da CMTC ele me falou que a Garagem da CMTC tinha um poço artesiano, e eu não sabia disso. Aí eu pensei: ótimo acabou a desculpa de que não poderia mudar o grupo por causa da água. E a Sociedade através de ofício foi ao Prestes Maia e pediu a ele que através da CMTC fornecesse  água do poço artesiano para o Grupo Escolar Ângelo Mendes de Almeida. Imediatamente, dali uns 02 meses, nós fizemos uma mudança festiva dos barracões de madeira da Rua Vinte e Sete para o prédio novo. Além do trabalho ainda tive que tirar do meu bolso dinheiro para alugar o caminhão para carregar as carteiras. Foi uma festa e foi resolvido um problema seríssimo que era esse Grupo Escolar que era o maior do Jabaquara até poucos anos atrás. E foi uma conquista da Sociedade Amigos do Jabaquara. 

Sociedade Amigos do Jabaquara

Por Horácio Ortiz

Como disse, a primeira vez que fui a essa Sociedade foi a convite do Dr. Cícero Sinisgalli, conceituado médico naquela época, que tinha um simples escritório. Hoje, através de seu trabalho e dedicação de toda a sua família, seus filhos, ele possui um complexo hospitalar muito grande no Jabaquara, que se chama Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes. Os membros da Sociedade mantinha o Dr. Cícero Presidente e tinha vários trabalhadores, o Jorge Nassif que era um comerciante da Rua Jequitibás, o Alcides Leopoldo e Silva um advogado e contador, o Isidoro Machado um batalhador, o Bianchi, corretor de imóveis e o Toscano outro batalhador assíduo. Essa Diretoria era muita unida e desenvolveu muitos trabalhos importantes. Um caso divertido foi a reconquista, digamos assim, do prédio do Colégio Villalva, que hoje é o principal colégio.

Esse Colégio estava localizado na avenida Jorge ... num prédio alugado, impróprio, porque era ao lado de uma fábrica de tacos, de onde exalava um cheiro insuportável de queima de piche para uso no taco e apesar de ter 400 alunos, o prédio só tinha dois sanitários, um masculino e outro feminino. E era um problema terrível. E no governo Carvalho Pinto tinha sido construído um prédio novo na Rua Conceição, atual prédio novo do Colégio Villalva. Esse prédio tinha sido construído no fim do governo Carvalho Pinto e o governo Adhemar de Barros, que tinha assumido em seguida o governo do Estado, não quis inaugurar o prédio. Aliás eram dez colégios prontos mas que não estavam sendo ocupados por falta de pequenos serviços, como instalações elétricas, completar serviço de tacos etc. O caso do Colégio Villalva foi um caso típico. Todo o bairro precisava de um colégio novo, então a Sociedade de Amigos se reuniu e fez uma movimentação para exigir que o governo terminasse a obra para mudança. E foi uma luta tremenda, porque não sabíamos que lá seria um outro Colégio, o Colégio Duque de Caxias que estava locado no Brás e pretendia usar o prédio do Jabaquara. Foi uma luta política para saber quem tinha prioridade para utilizar aquele prédio. E com muita discussão e empenho junto ao Secretário da Educação e o Secretário de Obras, conseguimos vencer a parada que foi muito duro. O Secretário de Obras e Serviços na época, era o ........... Soares Penido, um amigo nosso, ele era o responsável pelos prédios da Capital. Pedimos uma Audiência com o Secretário Penido e fomos lá pedir para terminar o prédio porque precisávamos. Dali uns quinze dias ele veio dizendo que o Governo do Estado não tinha dinheiro, que não podia inaugurar, e nós não tivemos outra saída se não ameaçar, dizendo que de qualquer forma metade do prédio estava pronta e nós íamos invadir o prédio, sem terminar os serviços que estavam faltando. E foi um susto para o grande Soares Penido, futuramente tivemos outros contatos, trabalhamos juntos em obras do Estado. Dali uns quinze dias voltou assustado pedindo pelo amor de Deus para não fazermos aquilo porque íamos desmoralizar ele e o Adhemar de Barros estava louco da vida. Eu disse que então ele que resolvesse o nosso problema. Depois de um mês o Penido me telefonou dizendo que ia terminar a obra em 02 meses. E eu disse:

Então vamos marcar a inauguração do Colégio para daqui 90 dias.

Ele disse:

- Não para que marcar data?

E eu respondi:

- Se não marcar data você sabe como é. Empreiteiro fica empurrando com a barriga o negócio. 

Afinal, marcamos a inauguração do Colégio e naquele dia saímos em marcha desde a frente do Colégio, onde era o prédio antigo na Armando Arruda Pereira, quase de frente a Igreja Nossa Senhora das Graças, até o prédio da Rua Conceição, onde se localiza até hoje o Colégio.  

Foi uma grande festa e no dia da inauguração aconteceu um fato também divertido. Naturalmente queríamos dar uma certa solenidade ao ato da inauguração, e a Diretora me designou como Orador para fazer a saudação ao Adhemar de Barros e Autoridades presentes. Estávamos lá às 11horas da manhã, cheio de gente no saguão principal, eu puxei um lembrete do bolso, que não era muita coisa, era uma página mais ou menos. Comecei a fazer o discurso: - Excelentíssimo Senhor Governador, o povo do Jabaquara está muito agradecido por esta sua decisão histórica de concluir esse prédio que é importantíssimo e tal e fui andando. Dali a pouco eu vi o Adhemar começou a fazer uma cara feia, e pensei mas falta pouco, só meia página, e fui andando. O desgraçado do Adhemar parado falou para a Diretora:  - Olha o seu rapaz aí é um bom rapaz, fala muito bem, mas a história dele está muito comprida e não dá tempo. Eu vou ter que cair embora.     

E já foi saindo, dando um abraço para turma e foi embora.

Eu disse:

- Puxa vida, que cara mal educado. Depois de tanto sacrifício não pôde esperar o finzinho do discurso, que tinha uma caneladas que eu gostaria que ele ouvisse.

E o Adhemar foi embora e foi inaugurado o Colégio Villalva Junior que hoje é uma gratas obras que temos no Jabaquara.

Prestes Maia, o Grande Engenheiro e Prefeito

Por Horácio Ortiz

Prestes Maia foi um antigo engenheiro da Prefeitura, foi Diretor do Departamento de Urbanismo e autor de inúmeros projetos fundamentais para o desenvolvimento da Capital. Ele foi o autor de um plano chamado de “Grandes Avenidas”, em que ele planejou avenidas em todos os fundos de vale da Capital. Como por exemplo as Avenidas Nove de Julho e Vinte e Três de Maio, as avenidas dos bairros que tinham fundo de vale, que eram córregos praticamente abandonados. Esse projeto de Grandes Avenidas posteriormente ele, quando Prefeito, deu prosseguimento à implantação desse projeto. Um dos grandes planos do Prestes Maia, ele praticamente foi o autor de 80% do seu desenvolvimento, foi o das avenidas marginais ao Rio Tietê e ao Rio Pinheiros. No Rio Tietê, naquele período dele, existiam grandes meandros e inúmeras lagoas circundando aos rios. No período em que ele foi Prefeito ele fez o plano de retificação do Rio Tietê, inclusive construiu várias obras. As principais pontes do Rio Tietê forma executadas pelo grande Prestes Maia.

No final de seu mandato ele adoeceu, mas apesar de desenganado, ele tinha câncer, ele não abandonou o seu posto e deu uma enorme demonstração de coragem, de civismo, de dedicação e de amor à cidade de São Paulo. Fui testemunha desse esforço heróico. Fui visitá-lo junto com o Dr. Paulo Penteado Faria e Silva, que era Presidente da Sociedade Amigos da Cidade, fomos em comissão de Diretoria visitar o Prestes Maia que se encontrava num leito do Hospital Samaritano. Isso era praticamente no final de seu exercício. Já tinha havido eleição e tinha sido eleito o Faria Lima que era o seu sucessor. Mas Prestes Maia não passou a Prefeitura para o Vice-prefeito por motivos pessoais. Fomos visitá-lo e ficamos sinceramente comovidos e jamais esquecemos a cena dele na cama hospitalar recebendo soro, tendo ao lado duas cadeiras, totalmente cobertas de processos que seu Chefe de Gabinete levava para ele examinar e despachar. Para mim, como engenheiro e como cidadão, era incrível aquela demonstração de coragem cívica do grande Prefeito Prestes Maia. Ele pacientemente, enquanto conversava, via e despachava os processos. Ele despachava pessoalmente dezenas de processos. Aquilo me foi uma lição cívica para o resto da vida. O que a coragem, a força de espírito e a dedicação daquele homem, pelo cargo, pela responsabilidade que tinha e que ele conservava com o mínimo esforço que lhe restava, um esforço heróico para levar até o fim o seu período de exercício do cargo de Prefeito da Capital. Depois daquela visita ele durou pouco mais de um mês.  Isso é uma lição para todos, que aquele grande Prefeito Prestes Maia deu a São Paulo.  

Câmara Municipal de São Paulo

Por Horácio Ortiz

Através do trabalho de sociedades de bairros, fui me entrosando em relacionamento com as representações dos bairros, as chamadas Sociedade Amigos de Bairros. Essa sociedades são antigas, e a primeira da cidade de São Paulo, foi através do Prestes Maia, a Sociedade Amigos da Cidade de São Paulo. O Prestes Maia fundou com uma série de amigos e até hoje é uma entidade atuante que defende os interesses da cidade. Num certo período eu fui membro da diretoria da Sociedade Amigos da Cidade de São Paulo quando o Prestes Maia era Prefeito e era Presidente da Sociedade o Dr. Paulo Penteado Faria e Silva, um grande advogado tributarista que deu um grande impulso à nossa sociedade. Eu fui secretário e num certo período tesoureiro da Sociedade.  Essa diretoria foi muito atuante e continuamos uma campanha que o Prestes Maia desenvolveu durante a sua administração que era a luta pela reforma do artigo 20 da Constituição. A Constituição vigente estabelecia que as capitais eram exceção de direito de arrecadar o excesso de arrecadação do período do Imposto de Renda. Então as capitais perdiam uma grande renda, e o Prestes Maia se batia por isso, mesmo como administrador e principalmente como prefeito. O Dr. Paulo fez uma campanha, fizemos um movimento junto ao Congresso e até conseguimos essa mudança do artigo 20, que só ocorreu no fim do mandato do Prestes Maia e quem se beneficiou dessa alteração de renda foi o Faria Lima que o sucedeu na Prefeitura. Mais a Sociedade Amigos de Bairros tiveram uma ação muito grande no período do Prestes Maia, do Faria Lima, Jânio Quadros e outros Prefeitos.

Recentemente elas perderam o seu entusiasmo tanto pela falta de apoio dos Prefeitos tanto pelo surgimento de muitas ONG’s, muito Partidos políticos etc que foram pouco a pouco ocupando o espaço que era reservado por ausência de outros elementos de luta pelos interesses dos bairros e que eram desenvolvidos pelas Sociedades de bairros. Então essas sociedades eram entidades registradas simplesmente em cartórios compostas de uma diretoria que agrupavam os moradores de determinadas áreas da cidade e reuniam-se semanalmente para tratar dos interesses do bairro, fazendo programas de atividades, programas de reivindicações de escolas, de pavimentação, de ruas, limpeza de córregos, todos os serviços que o bairro requeria eram catalogados, discutidos e levados às autoridades através de audiências que eram marcadas.

A primeira vez que participei da reunião de uma sociedade foi no Jabaquara quando recém mudado para o bairro, fui convidado por amigo, Dr. Cícero Sinisgalli, médico, que estava iniciando também o seu trabalho no bairro. Ele era muito amigo, suas esposa também, inclusive fazíamos rodízio no transporte dos nossos filhos para os colégios. Alguns dias da semana eu levava minhas filhas com os filhos dele, outros dias ele revezava. O Dr. Cícero era Presidente da Sociedade Amigos do Bairro do Jabaquara e me convidou para uma reunião. Fui e passei lá umas duas horas discutindo os problemas. Naquele tempo o Jabaquara era muito carente e tinha somente 20% de ruas asfaltadas ou iluminadas e praticamente não tinha escolas. Em todas as reuniões nós debatíamos esses problemas. Numa dessas reuniões o Dr. Cícero me convidou para fazer uma palestra sobre pavimentação, como engenheiro trabalhando no DER, ele sabia que eu era especializado em pavimentação. E naquele período aproximavam-se as eleições e vários candidatos continuavam prometendo muitas vantagens para a população asfaltando as suas respectivas ruas. Fizemos essa palestra, os moradores gostaram e pediram para que eu voltasse. Eu voltei e fiquei como sócio da Sociedade Amigos da cidade. Percorri cerca de 10 anos, cheguei a Presidente logo depois e durante esses anos todos desenvolvemos um trabalho grande em benefício do Jabaquara.

Posteriormente tivemos uma união com um grande batalhador pela Sociedade Amigos de Bairros, particularmente da zona sul que é um médico que reside há muitos anos na Vila Gumercindo, o Dr. Eduardo Campos Rosmanini. Ele é médico do Posto de Saúde, muito querido no bairro, descendente de família portuguesa que tem uma vinculação com o bairro, como existem muitos portugueses na Vila Gumercindo. O Dr. Rosmanini era Presidente da Sociedade de lá, e em algumas reuniões que ele me convidou, estive presente, e outros membros de Sociedade Amigos de Bairros da zona sul, do Ipiranga etc, nós resolvemos fundar uma reunião geral chamada Plenário da Zona Sul, que seria uma reunião dos Presidentes dessas sociedade uma vez por mês, no último domingo de cada mês pela manhã em uma das sociedades. Então foi aí que se originou o Plenário das Sociedade Amigos de Bairros da Zona Sul.  Incluímos as Sociedades do bairro da Saúde, Jabaquara, Ipiranga, Santo Amaro e que num certo período chegou a ser constituída de 60 ou 70 Sociedade Amigos de Bairros, e essa sociedade desenvolveu um trabalho muito intenso, principalmente esclarecimento para as lideranças de bairros. Para essas reuniões convidávamos autoridades, engenheiros da Prefeitura para discutir certos problemas, engenheiros das entidades de serviços públicos como SABESP, representantes da LIGHT que normalmente enviava um grande engenheiro que foi sempre muito amigo da Sociedade, que era o Dr. Mário Savelli, que sempre estava presente para dar alguns esclarecimentos. Essas sociedades se desenvolveram e tiveram um trabalho grande em várias operações fundamentais, certas diretrizes ou certas bandeiras de luta. A principal delas foi a abertura da Avenida Teresa Cristina, que hoje se chama Avenida Água Funda ou com seus nomes atuais, Av. Ricardo Jafet e outro nome de um grande engenheiro que foi o Diretor do Instituto Astronômico da Água Funda. Essa avenida era fundo naquele período era o fundo de vale do Córrego Água Funda, a cabeceiras eram praticamente das matas da Água Funda e tinham alguns reservatórios. Esse reservatório terminava no córrego da Água Funda, esse córrego nas enchentes praticamente invadia todo o fundo do vale, então esse fundo de vale era constituído de pequenas chácaras, era uma quantidade enorme desde as cabeceiras até no Ipiranga, praticamente próximo do Museu. Era o terreno mal aproveitado, praticamente abandonado, onde existiam chácaras e normalmente essas enchentes prejudicavam todos os moradores. O Rosmanini levantou essa bandeira de construção da avenida Água Funda no leito desse tal ........ que era o fundo de vale do Córrego da Água Funda. Em todas as reuniões discutimos as formas do governo resolver isso e conseguimos inclusive o apoio do Prestes Maia. Numa grande audiência que tivemos no Ibirapuera com a presença de mais de 20 Sociedade Amigos de Bairros o Prestes Maia nos recebeu com muita ternura, porque ele era um dos interessados naquela avenida, achava que era muito importante e nos prometeu até através de carta a mim dirigida, que ele iria fazer um levantamento de títulos da Prefeitura para financiar a construção dessa avenida Água Funda. Foi realmente uma grande satisfação de todos e daí começou realmente o movimento para a construção da Água Funda. O primeiro trecho ainda no período do Prestes Maia, ele começou a construção e foram feitas desapropriações, foram afeitas algumas ligações com ruas de bairros e foi iniciada o processo da construção da avenida Água Funda. Na administração Faria Lima que s seguiu à de Prestes Maia ele também nos recebeu com muita boa vontade e conseguiu construir dois ou três quarteirões dando sequencia ao trabalho do Prestes Maia. Posteriormente os outros Prefeitos continuaram, posteriormente ainda a avenida Água Funda foi incorporada com o eixo radial de ligação com a Rodovia dos Trabalhadores, então ali foi integrado o projeto com o fundo de vale da Água Funda com a via dos Trabalhadores com a construção já de uma via praticamente expressa com melhorias nos seus contornos e confluência com as ruas que dão para os bairros da Saúde, Jabaquara etc.

A Sociedade Amigos de Bairros conseguiram nos seus trabalhos muito importantes e nós vamos escrever algumas histórias relativas a essas Sociedades e alguma ocorrências interessantes da época do plenário da zona sul. O Dr. Rosmanini foi eleito Presidente por 04 anos e posteriormente eu fui eleito Presidente do Plenário da Zona Sul por vários anos seguidos. Continuamos sempre muito unidos ao Dr. Rosmanini que sempre era o trabalhador maior nessa luta pela Avenida Água Funda. 

Algumas Passagens do Delfim no Congresso

Por Horácio Ortiz

Pouca gente sabe que muitos congressistas tiveram a infância no Bixiga em São Paulo. Eu por exemplo, meu avô construiu uma casa na Rua Abolição e lá passei muitos anos da minha juventude, molecagem, em contato e convivendo com todo aquele bairro de italianada que nos dava muita alegria. Um dos que morou no bairro foi o Delfim Netto. A família era lá estabelecida e tinha um bom relacionamento.

O Delfim foi nosso companheiro no DER. Pouca gente sabe disso. Ele inicialmente era Contador ou antiga profissão de Guarda Livros. Profissão antes modesta e não tão recriminada como hoje dos economistas, que alguns dizem que são inimigos do desenvolvimento e do país. Mas o Delfim era funcionário do DER no meu período, quando fui funcionário do DER, e o Delfim trabalhava numa salinha junto da  oficina do DER na Mooca. O DER tinha uma mecânica de reparação de tratores na rua da Mooca por muito anos, e tinha uma salinha lá onde um sujeito gordinho e simpático com muitos livros, ele era o almoxarife da oficina do DER. E lá ficou muitos anos, conheceu sua esposa que era funcionária também do DER. Mas o Delfim teve essa vida, e posteriormente fez o curso superior com a nossa Faculdade de Economia  e graças a sua capacidade, logo virou um professor, e saindo do DER virou um professor iniciando a sua profissão com esse brilho que conhecemos. Ele teve um período que foi Assessor Econômico da FIESP e lá manteve um círculo de relações que sempre o acompanhou e sempre o ajudou. Um dos degraus que subiu com sua capacidade, apesar de sua origem humilde, ele foi participou do governo do Laudo Natel. No Congresso tínhamos um relacionamento bom com o Delfim Netto e também com o (Hebert Levy?) da Arena e nós de qualquer forma mantínhamos um bom relacionamento.

O Hebert porque participava de todos os desfiles de Nove de Julho como o seu veterano, foi um dos heróis da Revolução de 32 e era muito bem quisto por todos os veteranos. Certa vez, quando éramos Deputado Estadual, a pedido da Associação dos Veteranos de 32, demos uma mãozinha em benefício desses nossos heróis Na Assembléia Legislativa de São Paulo apareceu um projeto de lei do Paulo Egidio Martins e a Associação dos Veterano de 32 pediu que eu interferisse, alterando esse projeto de lei. Esse projeto previa uma subvenção para os veteranos de 32, era uma quantia pequena, um ou dois salários mínimos, mas de qualquer forma tinha alguns veteranos passando dificuldades, e era lógico que o Estado deveria retribuir o esforço desses nossos heróis. Esse projeto entrou na Assembléia Legislativa e tinha somente três ou quatro artigos. Primeiro fixava essa subvenção mensal de dois salários mínimos para os veteranos de 32, muito justo. Mas o segundo e o terceiro artigo representava uma espécie de uma pecha, era um defeito que praticamente desfazia aquela boa vontade, aquela intenção de homenagear a categoria dos Veteranos. O artigo segundo dizia que para obter aquele pecúlio, os veteranos precisariam provar o estado de necessidade. Coisa absurda, mas estava no projeto como artigo segundo. O artigo terceiro, pior ainda, é que este estado de necessidade, essa penúria, precisaria ser comprovado através de um órgão do governo do Estado, Secretaria da Fazenda ou qualquer coisa semelhante. E quando o projeto de lei foi, nas vésperas de Nove de Julho, o projeto foi apreciado, estava na Presidência da Assembléia, o Deputado Natal (Gali?). Nesse período, nós do PMDB tínhamos a maioria na Assembléia Legislativa e eu estava na liderança, como Deputado da maioria. Então combinamos com o Natal Gali que era presidente da Assembléia a votação e combinamos que eu pediria o destaque. Assim foi feito, pedi os destaque do segundo e terceiro artigos, e na hora da votação, como votam os Deputados, eu simbolicamente pus o dedão para baixo negativamente nos dois destaques e eliminamos os destaques, o que deu muita alegria para esses veteranos de 32. O Hebert também me agradeceu isso.

O Hebert tinha uma pequena rusga com o Delfim. O Delfim com aquele jeitão e como era muito apadrinhado pela FIESP e etc, o Hebert Levy era da área bancária e eles  tinham uma certa ojeriza. E numa certa época o Hebert resolveu puxar o tapete do Delfim. Levantou aquele famoso problema das polonetas, isso é, um negócio que o Delfim tinha feito quando era Ministro de fazer um acordo comercial com a Polônia, de trocar carvão com ferro, uma troca comercial com a Polônia em que o Brasil recebeu títulos da Polônia, a tais polonetas, e não sei porque esses títulos ficaram engavetados ou praticamente sem valor. O Hebert Levi queria pegar no pé do Delfim como responsável pela operação. Criou uma comissão de sindicância na Câmara e me colocou nela. Eu fiquei numa sinuca danada, afinal, a quem que eu vou? Eu vou ficar de mal com os dois. Os dois vão achar ruim. E não demorou muito o Delfim me procurou, dizendo:

- Ortiz você precisa dar um jeito naquilo. Aquilo não prejudicou em nada, é perseguição do Hebert. Aquele sujeito é muito rancoroso e tal.

Eu pensei, puxa vida vai ser uma chateação. Só sei que chegou no dia da votação do relatório, eu com a consciência muito pesada, não compareci na sessão e  aconteceu que não deu número e a comissão foi encerrada praticamente sem relatório. Foi uma briga, e o Hebert Levi que era meu companheiro de jogar tênis, quase toda Quarta e Quinta-feira no Tênis Clube de Brasília, ficou louco da vida. Me xingou, me fez um rolo danado, e levou um tempão para voltarmos à boas e continuar a jogar tênis. Essa foi uma passagem triste, a gente não sabia atender os dois amigos e no fim levamos umas alfinetadas do Hebert Levi. Mas no fundo os dois eram muito trabalhadores, cada um no seu setor, sempre foram Deputados com dignidade e sempre engrandeceram o Congresso Nacional. 

O Navio do Salgado

Por Horácio Ortiz

Aquele colega Salgado, do nosso primeiro dia, que nos levou no almoço no Piantella, e que o Pacheco Chaves contou qual era o seu costume de saudação aos coleguinhas recém chegados no Congresso. O Salgado uns meses depois na Câmara Federal, um dia me convidou para jantar na casa dele. Ele disse que eu como engenheiro conhecia construção civil poderia assessorá-lo num negócio que ele estava pretendendo. O Salgado era um sujeito muito ativo e tinha umas empresas de exportação e importação, e tinha um relacionamento grande com os países da África, da América Central etc. Então ele me convidou para jantar, disse que tinha uma comitiva das Bahamas que vinha fazer uns negócios com umas empresas da cidade de São Paulo e queria que eu estivesse presente. Eu disse:

- Bom, me não custa nada.

Dali uns dias, chegou o dia do jantar, estava lá seu apartamento, aliás um belo apartamento de cobertura, muito bem alinhado na Rua Padre João Manoel, e estava lá a tal comitiva, uns quatro cidadãos lustrosos, de casaca e as respectivas esposas. Foi um belo jantar e dentre os convidados existiam alguns empresários paulistas que ele tinha convidado. Entre eles eu encontrei o Allipert. Ele era filho do empresário Allipert dono da Siderúrgica Allipert da Água Funda no Ipiranga. Eles são meus conhecidos há tempo, minha senhora, Leia, foi professora na escola Valentim Gentil, que fica muito próxima a Allipert e os filhos dos funcionários da Allipert praticamente todos frequentam essa escola. Então era um relacionamento grande da Siderúrgica com a escola. Muitas vezes a meu pedido ou por espontânea vontade eles faziam serviços para a escola. Pintavam os muros, consertavam sanitários e eram muito prestativos. Gostavam muito da Diretoria e da minha senhora. Então eu conhecia o Allipert que também estava na reunião do Roberto Salgado, que era um empresário e tinha um relacionamento grande com essas empresas. E conversa vai, conversa vem, um bom whyski rodou e tal, e lá pelas tantas o Salgado me apresentou os Ministros das Bahamas. Um era Ministro de Obras Públicas, outro era Ministro das Finanças, outro era Ministro da Construção de Obras e outro era Ministro de Transportes. Eles vinham fechar negócios com empresas paulistas e diz o Salgado que o Governador estava interessado nisso e que no dia seguinte seriam apresentados no Palácio. Então ficamos lá batendo um papo com esse pessoal todo, inclusive entre os convidados estava esse Allipert que era interessado.

Naquele tempo a Allipert trabalhava com produção de lingotes de ferro, aço para construção civil e até ganhava um bom dinheiro com a construção aqui no Brasil e para exportação também. Ficamos ali numa conversa e o tal Ministro de Obras Públicas veio conversar comigo e com o Allipert que estava interessado em fazer uma aquisição de ferro para construção. E o Allipert estava ali para isso mesmo ficou discutindo com ele, qual era o tipo  de bitola que eles faziam para a construção civil, ferro de uma polegada para baixo e tal. Conversaram bastante tempo. Demos umas voltas conversamos com os outros convidados.

Lá pelas tantas o Salgado veio e participou da conversa final entre o tal Ministro, eu e o Allipert.  Então o Ministro perguntou para o Allipert:

- Quanto que você poderia fornecer para o nosso país? Nós estamos precisando desenvolver aquilo e tal.

O Allipert respondeu:

-  Eu tenho uma produção boa, e depende das bitolas que você precisa.

Ele disse:

-  Eu preciso de bastante de uma polegada para baixo. Ferro 37 CA.

Naquele tempo era essa a classificação do ferro, hoje a resistência é muito maior, cinco mil e tal.  

Conversaram então, e o tal Ministro estava interessado, entrou em detalhes com o Allippert, e queria fechar um negócio de mais ou menos 50 toneladas. Olha que é ferro para burro. São uns 10 caminhões de ferro, bitola média, ¾, ¼ , 7/8,  uma polegada etc. Conversaram bastante e Salgado veio e disse:

- Olha eu tenho uns navios aí das companhias que trabalham comigo e você se tiver qualquer dificuldade de exportação, mediante esse pedido, eu posso arranjar esse frete. Você combina com eles.

O Allipert disse:

- Ah pois não. A mim interessa vender. Estou fazendo negócio aí. Invés de vender aqui eu vendo lá fora. 

Então, conversaram bastante e no fim acertaram 50 toneladas de ferro de bitolas diversas que seriam exportadas dali há poucos meses. Dependeria do fechamento do negócio, autorização para exportação etc.   E a noite rolou, whisky,  música etc. E ficou tudo bem. Eles combinaram no seguinte continuar o processo e a negociação.

Passados mais ou menos uns seis meses, um dia eu estava numa reunião na Federação das Indústrias, tinha lá uma reunião de um problema qualquer, e tinha muitos empresário presentes. Ouve um coquetel e eu encontrei o Allipert e disse:

- Você está bom? Como é que vamos e tal? 

E eu lembrei daquela passagem daquele negócio que ele tinha feito e fiquei curioso. Então eu perguntei:

- Você viu o Deputado Salgado? Aquele que você estava acertando aquele negócio? Naquela noite você tinha combinado negócio e ia prosseguir entendimentos no dia seguinte da exportação daquelas 50 toneladas de ferro. Foi tudo bem? Faz uns seis meses que a gente não se vê, e como é que foi aquilo lá?

Ele disse:

- Faz seis meses mesmo. Mas você sabe que depois daqueles dias que eu tive entendimento, depois de lá eu nunca mais vi o Salgado, nem o navio dele e nem 50 toneladas que eu embarquei. Nunca mais eu ouvi falar dessa turma.    

Eu disse:

- Nossa vida, que coisa heim? Esse tal de Salgado é um malandro desgraçado. E eu caí que nem um patinho. Eu sinto muito e estava lá meio penetra, como convidado, mas eu forcei nada. Para você ver, a gente nessa idade e ainda cair nesse conto.

E foi assim que eu me despedi dele pensando cá comigo: puxa vida, mas esse cara tem coragem e é nosso representante no Congresso Nacional, esse tal de Salgado. E como ele tem coragem de levar tanta gente no tapa! Pelo amor de Deus.  

Nº 244

Por Horácio Ortiz

Essa é uma história interessante que ocorreu naquele período, um mês antes das eleições diretas pelo Congresso Nacional, eleição em que elegemos o Tancredo Neves. Como todos sabem historicamente a corrente do Maluf conseguiu o trabalho dentro do governo, conseguiu anular o movimento do candidato natural do governo que era o Ministro Andreazza, que era um grande trabalhador, um pé de boi do governo. Era grande figura pelas as suas obras e era um general que deveria suceder ao Figueiredo. Mas por um trabalho de sapa e convencimento, que demonstra grande inteligência e  habilidade do Maluf, ele conseguiu pouco a pouco ir convencendo os Deputados do seu partido a ir largando o Andreazza. E na convenção do partido o Andreazza perdeu do Maluf. Então O Maluf saiu como candidato à Presidência da República através da eleição direta do Colégio Eleitoral que era composto dos Deputados e Senadores. Então essa estrutura armada a eleição diariamente havia comentários, discussões etc e aquele episódio do Juruna. A história era que virava e mexia vinha uma notícia de que fulano de tal malufou, fulano de tal de tal Estado malufou também.  E aquela onda danada do Malufando embora os partidos da oposição, PMDB tivessem todos um grande entusiasmo porque havia um movimento nacional pró redemocratização. Mas assim a pressão, relativa dependência de todos os outros Estados menores do Governo Federal colocava em cheque a votação. E assim os meses foram andando até chegou o famoso dia véspera da votação. Nesses dias aconteceu um fato muito curioso e que também  nunca vai apagar da minha memória, essa passagem do Congresso Nacional.

Um dia, voltando para o meu Gabinete encontrei a porta abarrotado de jornalistas me aguardando. Eu perguntei o que havia de novidade. Eles disseram: 

-  O problema é o seguinte. Fizemos um levantamento e parece que o PMDB vai ganhar mesmo. Vai dar vitória do PMDB. Então nós jornalistas fizemos uma contagem dos votos que sairão amanhã e contando um por um dos votos, pela ordem, os votos mais definidos, então o Sr. que é o número 244 vai ser o voto decisivo, que é o voto da metade mais um. Se o Tancredo ganhar, o voto do Sr. vai ser o voto decisivo.

Eu fiquei surpreso com aquele monte de jornalistas e disse: 

- Então eu fico animado com isso e acho que é uma ótima solução, eu contribuir com meu voto, que vocês não têm dúvida que vamos eleger e redemocratizar este país, depois de tantos anos de luta pelo PMDB e pelas oposições do País.

E conversa vai, conversa vem, os jornalistas foram embora. Eu fiquei no meu gabinete pensando: puxa vida, amanhã vai ser uma passagem dura. Mas estava todo animado porque afinal meu voto seria decisivo e seria motivo de orgulho para o resto da minha vida. Fiquei todo animado, peguei o telefone, telefonei para a patroa em São Paulo, Dna. Leia, e as minhas filhas, dizendo: 

- Olha amanhã, vocês vão ouvir na TV na votação que o papai aqui vai ser o voto decisivo. A metade mais um. Nós vamos eleger o Tancredo.

Aliás eu tinha certeza que nós íamos eleger o Tancredo. E aquela noite fui dormir feliz. Antes passei no Piantella, jantei muito bem, tomei uns vinhos, uns whiskys etc, sossegado e com a consciência tranquila.

No dia seguinte houve o início da votação, uma porção de questão de ordem, etc, o processo foi se prolongando. Questão de ordem, questão de ordem de lá, etc e o tempo passando. Até que começou a votação.

- Fulano de tal do Amazonas, com que vota? 

- Maluf.

- Fulano de tal do Estado tal em quem vota?

- Maluf.

- Fulano de tal do Estado tal com quem vota?

- Tancredo.

E foi assim pim pam, pim pam, equilibrado o negócio. Aí foi chegando e eu me animando porque o PMDB estava com uma pequena vantagem. Foi chegando o meu número de votação e eu estranhei porque estava faltando a votação de muita gente. Tinha uns sabidões que deixavam para a segunda chamada e eu inocentemente não tinha percebido a jogada desse sabidos. Porque estava muito equilibrado, de qualquer forma eu estava acompanhando, chegou no meu número.

 Deputado Horácio Ortiz em quem vota?

- Tancredo.

Mas eu fiquei com a pulga atrás da orelha, pensando: puxa vida, mas ainda falta uma meia de dúzia de votos para atingir a metade mais um. E foi andando, até que chegou no nº 276.

- João Cunha em quem vota?

- Voto com Tancredo Neves pela democracia no Brasil.

Foi aquele estrondo, a democracia, votação, aquele estouro danado. Então a democracia tinha sido reconquistada no Brasil. Tancredo Neves tinha vencido a votação. Só aí que eu descobri o que era a jogada. Muitos malandros para não se comprometerem, não respondiam a primeira chamada para aguardar quem ganharia a votação para depois votar. E assim aconteceu. Muitos malandros votaram na Segunda chamada quando Tancredo já tinha ganhado com muitos votos. Evidentemente eu fiquei contente pela vitória de Tancredo, mas fiquei mais ou menos decepcionado, pensando: puxa vida, mais uma vez a gente recebe uma lição aqui nessa Casa, entre os espertos. Todos são espertos e cada um é mais esperto do que o outro. Afinal contente, feliz da vida, fomos jantar no Piantella com o Ulysses, o pessoal todo, comemorando a vitória. No fundo eu pensei: mas que danados desses safados. Bem podiam, o papai aqui ter um cartaz danado com esse voto decisivo. Exatamente o que aconteceu com o João Cunha. O voto dele foi decisivo e estourou pelas manchetes do Brasil todo. Isso faz parte do jogo, da luta política e o final feliz foi que o Tancredo Neves foi eleito pelas oposições, particularmente pelo PMDB, como primeiro Presidente do Brasil depois da Ditadura.

Das Diretas Já!

Por Horácio Ortiz

O movimento das Diretas foi realmente uma movimento público excepcional que engrandeceu o Congresso, o povo brasileiro, e particularmente o nosso partido PMDB, que foi a grande liderança que ergueu toda a população brasileira para o retorno à democracia. As Diretas Já, o movimento praticamente surgiu aqui em São Paulo e lembro-me de que numa reunião no Palácio, o Montoro levantou essa idéia de que a gente precisaria fazer esse movimento porque os militares tinham prometido a democracia, o retorno às eleições diretas, mas já estavam fazendo um movimento e já tinham praticamente designado uma fórmula de eleição indireta pelo plenário do Congresso, em que eles tinham a maioria. Numa reunião do Palácio, o Montoro convidou todo o Secretariado e nós discutimos a fórmula de participação nisso tudo. Um ponto importante era a concentração. Muita gente deu palpite, mas me lembro que o Montoro encarregou um dos líderes do nosso movimento aqui em São Paulo que era seu assessor. No debate o Assessor do Montoro, Cunha Lima,  lembrou a possibilidade de fazer uma grande comício na Praça da Sé.  Muitos discutiram que a Praça da Sé era pequena, outros achavam exatamente por ser pequena era vantajoso se não fosse muita gente etc, mas em resumo se discutiu e se concluiu que seria feito. E foi feito um movimento com muita propaganda e foi um comício fantástico. O palanque na frente da Catedral, toda a cidade e todo o Estado foi imobilizado, teve gente de todo o país, e foi um movimento muito grande e muito bonito. Eu já tinha voltado para São Paulo e a pedido do Montoro fiz a mobilização que me cabia. Eu como Secretário de Transportes liberei as catracas do da Fepasa, do subúrbio, para a população ir gratuitamente ao comício da Praça da Sé.

Essa decisão me custou um pouquinho de dor de cabeça, porque depois das eleições um Vereador, que aliás era até meu amigo, foi colega meu na Câmara Municipal, era do PMDB e depois passou para o governo, o Manuel Sala entrou com uma representação no Tribunal processando o Montoro, eu e uns outros que tinham usado recursos do Estado para fazer política. Deu trabalho porque o processo foi aceito e teve andamento. Ainda bem eu tinha as costas quente e o Montoro estava junto no processo. E graças ao nosso amigo e grande advogado, José Carlos Dias, que era Secretário do Montoro, nos livrou dessa chateação de ter que responder e ter que indenizar alguns milhares de sujeitos que eu tinha dado passagem livre na Fepasa para virem no comício.

Mas o comício teve uma grande repercussão nacional, com cerca de seiscentas mil pessoas. A praça da Sé estava apinhada e o interessante é que eu tinha feito uma espécie de chapéu de papelão amarelo de propaganda, escrito Diretas Já Ortiz Deputado Federal. Eu fiz mais de vinte mil daquele chapéu e distribuímos lá na frente do palanque. Ficou uma beleza o chapéu de papelão amarelo e grande. Até uma revista americana retratou aquela fotografia do chapéu e do comício das nossas Diretas Já.

E foi um movimento que mobilizou toda a população e nós partimos para a fase seguinte que era a votação pelo Congresso. E houve a decepção que foi a que queria acrescentar nesse movimento das Diretas Já uma preliminar. Antes dessa declaração desse comício eu participei das reuniões do Diretório Nacional junto com o Ulysses e Tancredo. E numa reunião em Brasília, no Congresso do PMDB em que se discutiam, depois daquela votação frustrante que era a eleição das Diretas, os líderes se reuniram no Congresso para saber como partir dali para frente, já que o Congresso tinha rejeitado as eleições diretas. Nós começaríamos a pensar numa forma de mobilização da população para exigir essa eleição. E foi muito interessante, que nessa reunião se discutiu como começar o processo. Então o Ulysses falou: - nós vamos fazer um movimento para aprovar uma lei das Diretas Já. O Montoro disse: - temos uns cinco ou seis projetos no Congresso. Eu mesmo tenho uma proposta. O Ulysses disse: - realmente tem vários, mas eu acho que nós temos que agir, escolher algum projeto que já esteja no Congresso e vamos apoiar esse movimento. Quais são os projetos que estão aí? Aí puxaram uma lista que tinha   o projeto do Montoro e projetos de outros Deputados. O Tancredo sabido como sempre foi, disse: - olha nós temos que arranjar um projeto de lei que seja de Deputado desconhecido, sem reflexo nenhum, por senão dá muita ciumeira e vai dar trabalho. O Montoro disse: 

-         Absolutamente eu não faço questão de ser o meu projeto.

E olhando a lista viram o projeto de um Dante de Oliveira, Deputado do Mato Grosso, primeira legislatura dele, teve uns votinhos lá, e tinha apresentado um projeto e ninguém conhecia. Decidiram então partir para campanha daquele projeto de lei. E assim iniciou-se a campanha das Diretas Já da lei Dante de Oliveira que foi levada para todos os cantos do Brasil. E realmente foi um movimento cívico importante, com aquele comício em  São Paulo e outros.

O nome desse Deputado Estadual de Mato Grosso era Dante de Oliveira e assim surgiu o movimento das Diretas Já apoiando o projeto dele. Dante de Oliveira aproveitou essa alavancagem do processo, foi eleito depois, mesmo rejeitada a sua emenda, foi eleito Governador do Mato Grosso. Depois saiu do PMDB entrou para outros partidos, foi prefeito de Cuiabá, Capital de Mato Grosso também fora do PMBD e hoje está fora do PMDB. Assim como ele, outros também que se elegeram à custas do PMDB, governadores, senadores, Deputados etc e depois de eleitos rejeitaram a nossa legenda e passaram a apoiar o governo e os famosos currais dos tucanos. O problema então ficou nessa campanha das eleições diretas. Essa campanha pelas eleições diretas teve esse desdobramento grande em São Paulo, foi aquele movimento liderado pelo Montoro, foi em todo o Brasil esse movimento. 

Quebra-quebra no Plenário

Por Horácio Ortiz

Essa foi uma passagem muito divertida que ocorreu no meio período da legislatura. Aconteceu que havia em certo equilíbrio de forças, tendo em vista que o governo já enfraquecido e a oposição muito fortalecida com grande discursos de oposição praticamente diários. Praticamente o plenário estava completamente dividido. Mas assim mesmo a Arena que era o partido do governo, ainda acostumada, tendo a boca torta acostumada a ver o cachimbo, da situação, não perdia a oportunidade de impor certas manobras. E aconteceu essa manobra que se esparramou ou deu motivo a uma passagem um pouco barulhenta no plenário da Câmara em que ocorreu mais dessa forma.

Estava em votação um projeto importante e muito equilibrado. E da forma regimental estava em votação. Tinha sido designado para fiscal do PMDB na votação na mesa, o nosso amigo, Deputado de Bauru Tiben de Lima, que estava lá na tribuna próximo à mesa, contando: Fulano de tal como é que vota? O sujeito da Arena: - Fulano de tal como é que vota? E o plenário é muito grande e tinha muita gente lá no fundo. A votação estava muito equilibrada e tinha gente respondendo pelos outros. Eu percebi aquela manobra, o Tiben também, e um outro colega também bom de briga, o Deputado por Mato Grosso, Gilson de Barros. O Deputado Gilson também era fortão. Então no plenário estava o Deputado Gilson e na mesa o Deputado Tiben conferindo. E eu também naquele tempo estava pesando mais ou menos 110 quilos.  Eu sei que quando um sujeito lá no fundo respondeu por um Deputado ausente, eu protestei. Aí o Tiben de Lima deu um empurrão no Deputado da Arena que estava fazendo a conferência dos votos, e o outro já da mesa também levantou, eu não perdi muito tempo, pulei na mesa e já enfrentei a turma. A primeira cara que me apareceu foi um baixinho, um tal de Joaquim Guerra de Pernambuco. Eu não tive dúvida, lhe dei um chibara, naqueles tempos eu estava bom do Jiu-Jitsu, joguei o bicho voando para cima das (tarquilhas?) que ficava abaixo da mesa e foi um rolo com safanões para cá, safanões para lá até chegar os guardas e por ordem na situação. E aquilo deu um reflexo danado. Quando cheguei em São Paulo estava na primeira página da Folha a hora em que eu tinha dado um pescoção num cara lá. Exatamente a manchete na Folha que era o Rififi na Câmara Federal.

Aquilo foi uma coisa meio desagradável, muita gozação dos colegas de São Paulo, lá na Câmara Federal etc. O Gilson de Castro apelidaram de Hulk, aquela figura forte e verde que consta das figurinhas. O Tiben de Lima também fortão e eu. Era o trio da guerra do PMDB. Eu sei que estava tudo bem, eu não dava muita bola para isso, só que quando acabou, depois da volta a Brasília, um grande amigo nosso, que era da legislatura anterior, o Israel Dias Novaes, que era muito amigo também, aliás me cedeu o apartamento, ele mudou para outro quando eu fui para Brasília. Então o Israel veio me dizer que eu tomasse cuidado porque aquele tal de Joaquim Guerra em quem eu tinha dado um pescoção e tinha saído nos jornais, ficou chocado com aquilo, foi muito vaiado em Pernambuco e ele não ia deixar por isso mesmo. Eu disse:

- Isso é conversa mole desse sujeito. Quem é esse Joaquim Guerra?

Ele disse:

- Olha não brinca não porque ele já tem umas três mortes nas costas. O bicho anda meio da pesada.

Eu disse:

- Puxa vida que brincadeira. Logo agora no primeiro mandato eu vou ter que enfrentar um cangaceiro lá do nordeste?

Eu sei não mas eu fiquei meio desconfiado. Aqui o Congresso já tem umas passagens meio de bang-bang, já mataram Senador no plenário e Deputado já é uma referência menor também não custa muito esse tal de Joaquim querer armar uma guerra para cima de mim. Na semana seguinte, por via das dúvidas, não por medo, eu levei meu 38 daqui de São Paulo para Brasília. E por via das dúvidas também, só por via das dúvidas, eu fiquei mais ou menos uns quinze dias sentado quase no fundo olhando para a porta de entrada do fundo e com o trabuco na cinta por via das dúvidas, para o que desse e viesse. E foi assim, num ambiente meio pesado, que passou o primeiro mês. Depois do primeiro mês, teve uma discussão numa das comissões lá, eu e o tal de Joaquim Guerra discutimos e tal, mas depois fizemos as pazes e ao final o tal de Joaquim não era de tanta guerra assim e ficamos amigos.

Mas por aí, vocês vêem que aquela votação lá no Congresso deu o que falar e meu deu fama de arruaceiro, que eu nunca fui. Sempre fui um sujeito meio calmo e meio quieto. Mas aquela lá não resisti à tentação de descer o braço nos malandros que estavam querendo roubar a votação pelo Governo. E esse foi o tal de Rififi no plenário.

O Cerco do Congresso e o Movimento de Anistia

Por Horácio Ortiz

Houve um período de muitas tensão nervosa no Congresso. A metade do Governo Fiqueiredo que ainda, o setor radical das Forças Armadas, queriam impor certas condições de funcionamento do Congresso. A maior violência feita foi a suspensão dos trabalhos do Congresso por 90 dias, porque o governo não aceitou as discussões sobre as reformas do Judiciário. E por um ato de violência, o Congresso foi praticamente cercado e suspensos os trabalhos. Tivemos que ficar quase 90 dias de folga, quando os movimentos sociais continuavam. Daí em diante houve um fortalecimento do movimento de anistia e várias delegações estiveram no Congresso. Essa violência da suspensão do Congresso por 90 dias mobilizou grande parte da sociedade, as classes sociais, a OAB e os movimentos sociais da oposição ficaram fortalecidos. Aí o surgiu o movimento da anistia liderado por essa grande patriota que é Dna Terezinha Zerbin. Dna Terezinha era esposa do General Zerbin que tinha praticamente o comando aqui em São Paulo no período da Revolução e se negou a cumprir ordens de apoio à Revolução. Ele foi perseguido, foi rebaixado e a Dna Terezinha continuou na luta. Com grande coragem participava de todo movimento. Praticamente ela foi a grande vida da anistia. Tivemos sessões no Congresso do PMDB em que discutimos a anistia e sessões memoráveis em que todos se manifestavam do país todo, Deputados de todos os Estados estavam unidos pela anistia.  Esse movimento foi fortalecido até se aprovar a lei da anistia. É preciso não esquecer hoje que o PT está no governo, ou veio a estar no governo, que nós o PMDB e as oposições do Brasil conseguiram aprovar a lei da anistia liberando todos as vítimas da perseguição da revolução. Quando aprovamos essa lei, o nosso amigo Luiz Inácio Lula da Silva, estava na cadeia, e esse foi um trabalho que o PMDB desenvolveu em prol da democracia e que não muita gente do PT reconhece esse nosso trabalho na luta pela redemocratização do Brasil. É um fato histórico que nós não podemos deixar de consignar, esse período pré votação da última eleição da Ditadura em que o movimento de anistia ganhou todos os recantos do país.  

A Passagem do Juruna

Por Horácio Ortiz

Conforme dissemos, o Rio de Janeiro deu uma demonstração de democratização, elegendo o índio Juruna por esforço do Brizola. Brizola fez questão de eleger o Juruna como Deputado Federal. E o Juruna por acaso se ........... num apartamento no meu prédio em Brasília e era muito amigo, conversávamos etc. E ele era insistente, um obstinado. Quase todo dia falava alguma coisa sobre a sua tese principal que era a discriminação das terras, a luta pela demarcação de terras indígenas no Brasil. Então todos os dias ele vinha com esse discurso e tal. E vira e mexe, quando tinha audiência com Ministros, Secretários etc, ele ficou famoso por não acreditar na palavra de ninguém e sempre levava um gravadorzinho a tiracolo, e quando perguntado sempre respondia:

- Só acredito em branco com palavra gravada. Branco não tem palavra p’ra índio. 

E o Juruna continuou a sua  luta lá e etc.

E o que aconteceu foi que quando as eleições se aproximaram e houve o movimento de renovação política, movimento de diretas, aconteceu um fato interessante. Naquele período pré votação das eleições, da votação pelo Congresso da eleição indireta para a Presidência da República, o Congresso passou por vários meses naquela tensão nervosa, as oposições pressionando, acusando etc e o governo se defendendo como podia. E a gente ia acompanhando aquela discussão entre as ................... do governo, que o Maluf estava corroendo por baixo a candidatura do Andreazza que era o candidato natural dos generais que queriam  mais um candidato general para a sucessão do Figueiredo. E com a gente todo dia o que acontecia é o seguinte, todo dia tinha uma onda que fulano e sicrano tinha passado, porque o Maluf passou pelo Andreazza e foi indicado pela Arena como candidato à Presidência da República, e durante aqueles meses cada dia surgia mais uma notícia no Congresso. Olha o fulano tal, o Deputado de tal Estado Malufou, no dia seguinte vira e mexe vinha uma outra notícia de um outro Estado, o fulano lá de tal Estado Malufou. E assim nós estávamos preocupados porque o PMDB lutando e tal, fazendo discursos, metendo o cacete na Revolução etc e cada dia passava essa notícia. Até que surgiu um a notícia um pouco diferente. Disseram: - Olha o Juruna também Malufou.

Nossa, aquilo para nós foi um choque, porque afinal o Juruna era o líder da bancada do PDT na Câmara Federal, era o homem símbolo da oposição no Estado do Rio, o Brizola andava vira e mexe com ele e tal. Então fizemos um movimento para convencer o Brizola para pressionar o Juruna, porque se afinal aquilo fosse realidade era um desfalque grande, tinha um significado ali muito sério com a bancada do Rio e em outros Estados também. Então uns sabidos lá, uns xeretas, souberam que o Juruna tinha ganho cinquenta mil reais do Maluf para votar nele no Colégio Eleitoral da Câmara que deveria eleger o Presidente da República. Então a oposição se movimentou e foram tomar as providências junto ao Brizola, que o afilhado dele estava querendo debandar para o lado do governo. O Brizola imediatamente esteve em Brasília e deu uma chamada no Juruna e tal, reuniu com a oposição, garantiu que o Juruna tinha se comprometido e tal. E o pessoal dizia, como é que você conseguiu isso? O Brizola disse:

- Coitado ele disse que a mulher dele estava doente e ele precisava daquele dinheiro. Então eu peguei e disse para ele que compreendia a situação dele, então para eliminar o problema eu peguei dei mais cinquenta mil para ele para depositar no banco em nome do Maluf . Ele me prometeu que depois de amanhã ele vai fazer isso. Todo mundo ficou animado, disse:

- Puxa vida afinal o Brizola funcionou e o Juruna é índio etc mas é um cara meio ..............., tem princípios etc, uma necessidade de família justifica o negócio.

E foram aguardar os dois dias. E a turma tem um sistema de espionagem bem organizado lá no Congresso, então aquela agência do Banco do Brasil, aqueles funcionários são todos relacionados com Deputados, Senadores etc. E aí no dia, aquele bruta aparato e tal, aguardando, e o Juruna chegou lá todo pomposo, pegou e fez um depósito lá, depositou na frente de todo mundo, tiraram fotografias da pose dele e foram embora. Só que depois de uma hora mais ou menos veio a notícia, todos nós estávamos contentes etc, o funcionário leu o depósito do Juruna. Ele depositou só vinte no nome do Maluf . Quer dizer que ele embolsou além dos cinquenta mil iniciais mais trinta mil do Brizola. A gente ficou pensando: - puxa vida, esse bicho vem da floresta lá de Mato Grosso, não teve escola primária, nem secundária, nem nada, mas como são vivos esses índios. Dão lição para todos esses Deputados que estão aqui há muito tempo. E nós ficamos pensando: - puxa vida, como esse negócio aqui no Brasil está pesado. Até os índios dão lição para o resto da população. 

Em Brasília

Por Horácio Ortiz

O período final da legislatura estadual nos foi favorável porque realmente foi ajudado pelas declarações do Presidente Figueiredo, com aquelas famosas frases como: “prefiro cheiro do cavalo do que do povo” e outrasmais. A situação da Revolução estava visivelmente enfraquecida e a campanha era favorável. Toda a população era contra a ditadura. Isso pelo Brasil todo. Então, naquele período na Assembléia Legislativa tivemos vários episódios em que realmente pudemos dar destaque.

Um fato que chocou muito a opinião pública em São Paulo, foi a invasão da PUC. A invasão perpetuada pelo famigerado Coronel que invadiu a PUC e praticamente espancou, agrediu e arrebentou todas as instalações da Universidade. Nós abrimos uma Comissão de Inquérito na Assembléia Legislativa, e foram eleitos, eu como relator, o Goldman como Presidente e mais um do PMDB. Éramos três do PMDB, que eram maioria na Assembléia e dois da ARENA, o Castelo Branco, que aliás era um bom sujeito e o líder da ARENA. Então essa Comissão de Inquérito, no dia seguinte de constituída, visitou todas as depredações que aquele mal fadado Coronel tinha feito no Prédio da PUC. Fizemos várias sessões públicas com grande destaque na imprensa, tendo em vista a violência daquilo e a ferocidade da ação. Aquilo teve uma repercussão muito boa, vários meses. Ao fim nós concluímos. Como relator, pedimos o enquadramento do responsável principal, o Coronel, que  tinha infringido quatro artigos do Código Penal. Invasão de domicílio, abuso de autoridade, ferimentos graves  e danos ao patrimônio de terceiros. Essa conclusão depois de muita discussão, o pessoal da ARENA querendo sabotar, como sempre, foi aprovada e enviamos para o Governador, Abreu Sodré. Ele como bom arenista que era, infelizmente não deu andamento, não mandou à Promotoria Pública, e após um leve parecer mandou que o processo fosse arquivado. Esse foi um dos fatos marcantes da minha legislatura como Deputado Estadual.

Outro trabalho importante que desempenhei também, foi a luta contra a implantação do Aeroporto de Caucaia. Um aeroporto absolutamente inconveniente em termos de projeto, de execução e conduzido de forma trabelhária pelo Governador, que queria, com interesses escusos. Era uma obra caríssima, conforme nós provamos na Comissão de Inquérito, e que não justificava-se naquela época, porque Congonhas resistiria por uns quatro ou cinco anos, e atenderia ao mercado e o sistema de aviação da região.

Esses dois fatos me foram favoráveis. Eu estava animado que realmente teria uma boa votação, como realmente tive, cerca de oitenta mil votos, e trabalhando sozinho como oposição, sem gastar dinheiro. Simplesmente em decorrência do trabalho político que tinha feito na Assembléia Legislativa.

As eleições de 1978 foi ...... geral no País, em que a oposição ou PMDB, conseguiu vários governos estaduais e grande maioria das Assembléias Legislativas, como foi em São Paulo. Na Câmara Federal também tivemos uma boa representação.

As eleições de 1978 tiveram certos aspectos interessantes e divertidos. Por exemplo, lideranças novas surgiram como uma reação da população. No Rio de Janeiro, o Brizola que era Governador, quis eleger e elegeu com grande maioria, um representante índio, o famoso Juruna. O Juruna foi candidato pelo Rio de Janeiro, uma cidade culta, das capitais do País muitos anos, elegeu  o Juruna  com grande votação. Em contraste com a população culta do Rio que elegeu o Juruna, o Mato Grosso que era um Estado mais ou menos agrário ou pouco desenvolvido, elegeu o Senador Campos, que era um grande intelectual e praticamente teve o seu reconhecimento por esta eleição por Mato Grosso. Mas esse período inicial em Brasília foi para nós aquele deslumbramento e para lá foram algumas passagens interessantes.

Um dia, passando aqui em São Paulo pela Avenida da Água Funda, vi num Posto de Gasolina um bonito de um Ford verde. Daqueles últimos modelos antigos da Ford e estava alinhadíssimo. Eu fiquei encantado com aquele carrão e disse:

-  Eu vou desfilar em Brasília com este bicho! Afinal lá a gente vai andar pouco, é só do Congresso ao restaurante e ao apartamento. Esse bicho bebe muita gasolina, mas não vai me dar prejuízo e tem um status bonito.

E realmente fui no posto e fechei negócio com o “fordão” que tinha motor V8, estava em muito bom estado, pintura impecável, estofamento novinho, pneus bons, motor funcionando muito bem, ar condicionado, rádio muito bom e era propriedade de um médico que pôs à venda. Nós adquirimos aquele “fordão” e demos umas voltas aqui em São Paulo enquanto preparávamos para irmos para Brasília.

A nossa viagem para Brasília também foi muito divertida. Eu tive contacto com um colega também eleito deputado federal, o nome era Walter Gama, o Waltinho, eleito por São Bernardo. Ele era genro do Grilo, que era Prefeito de São Bernardo. O Waltinho era grande sujeito, muito amigo, companheiro e foi um grande companheiro lá em Brasília também. Então marcamos um dia e eu e o Waltinho saímos de casa em direção a Brasília com o “fordão”.  Nossa viagem teve um grande imprevisto, porque saímos de São Paulo, pegamos a via Anhanguera até a divisa de Minas, de lá pegamos o Triângulo Mineiro rumo à Brasília, via Catalão que era uma rodovia nova ligando Brasília ao Triângulo Mineiro. O nosso “fordão” comia uma gasolina danada e fomos seguindo. Sei que lá pelas tantas da estrada, começaram a ralear as cidades e os poucos lugarejos que tinham na marginal praticamente não tinham nada, eram botecos com café e não tinha posto de gasolina nenhum.  Eu comecei a ficar assustado porque ainda faltavam uns 150 kms para chegar em Brasília e a gasolina já estava meio que encostando no zero. Eu pensei e disse:

-         Como é que eu vou sair dessa?

Aí quando chegamos na frente, uma cidadezinha um pouco maior, mas sem posto de gasolina nenhum. Eu resolvi apelar. Entrei na cidade e procurei até encontrar uma farmácia. Na farmácia olhei nas prateleiras etc, vi vários litros de álcool e pensei cá comigo: vou resolver o problema do próálcool aqui no Triângulo Mineiro e já que o meu “fordão” não está adaptado vai ter que beber álcool de qualquer jeito senão não vamos chegar em Brasília. Pegamos uns 30 litros de álcool, o que tinha no estoque da farmácia, e tacamos no “fordão” velho e disse para o Waltinho:

-         Se não for isso aqui nós não vamos chegar em Brasília hoje. Vamos ter que pousar na estrada porque já está escurecendo.

Tocamos o álcool, o bicho pegou até com um barulho bonito e pisamos fundo. Até parece que o álcool dava maior potência ao motor. Ele corria para burro. E sobe e desce e tal, estrada nova e boa e tal e tal, fomos andando, rezando etc. Não chegamos em Brasília a não ser 10 kms de Brasília que tinha outro posto. Mas afinal chegamos em Brasília com o “fordão” corajoso, meio bêbado etc mas aguentou o tranco bonito.

Em Brasília no dia seguinte fomos lá num Posto fizemos uma lavagem no tanque do nosso alcoólatra recente que era o nosso “fordão” e limpamos alguma coisa, carburador, a bombinha de gasolina etc porque nós sabíamos que o carro não era adaptado e esse era o ponto fraco. O álcool ataca aquelas fundições desse processo de adução de gasolina para o motor e o bicho ficou em ordem e voltamos para Brasília. Quem chega em Brasília como eu e o Waltinho, chegamos deslumbrados, porque eu conhecia Brasília mas estava devendo um certo compromisso porque fui convidado para a inauguração de Brasília. Tinha uma turma de colegas engenheiros do Instituto de Engenharia, que fizeram uma caravana, mas eu comodamente fiquei aqui para assistir a inauguração, que foi um grande trabalho, uma demonstração de capacidade administrativa de JK. Mas aquele tempo, teve infelizmente alguns anos antes, o JK tinha uma certa oposição àquela bateria da UDN malhando o governo dele noite e dia, tinha algum certo efeito sobre a população. Também algumas passagens do sistema de construção etc. Então tínhamos um débito com Brasília, mas chegamos lá e logo fomos para um hotel, nos instalamos etc e ficamos programando como seria a nossa estreia na semana seguinte. Lá no Congresso começariam os trabalhos legislativos. E aconteceu uma  passagem divertidíssima que foi no nosso primeiro dia em Brasília. É uma história que eu não esqueci porque caracterizou o nosso primeiro dia no Congresso.

Chegamos lá no Plenário, respiramos fundo etc, aquele ar condicionado muito frio e eu mal acostumado. Aqui em São Paulo o ar condicionado da Assembléia Legislativa não era lá essas coisas. Mas eu sei que lá assistimos os primeiros discursos etc, abertura, tudo muito bonito. Aí chegou na hora do almoço e resolvemos fazer a inauguração num restaurante bom. Perguntamos para alguns e todo mundo sempre indicava o Piantella. O piantella era o famoso restaurante preferido dos políticos, particularmente o Ulysses, os Senadores etc tinham cadeira cativa, uma mesa especial para eles lá. Então fomos almoçar no Piantella. Mas quem nos convidou para irmos lá, era um colega daqui de São Paulo que insistiu muito para irmos para lá. Ele nos levou no Piantella, mandou descer a carta de vinho, tinha uns vinhos muito gostosos, whisky  etc. Eu, o Waltino e Roberto esse colega nosso, entramos no whisky, almoçamos, foi tudo muito bom. Chegou a hora da conta, esse colega nosso pegou e começou a dormir, e roncava alto. Estranhei aquilo, afinal nós tínhamos bebido um bocado de whisky, comida muito boa etc mas ele estava numa soneca profunda. Eu e o Waltinho resolvemos ir embora, chamamos a nossa conta meio salgada, rachamos a conta e pagamos. A hora em que acabamos de pagar a conta, o nosso colega que era Deputado daqui de São Paulo, que já vinha de uma legislatura anterior, acordou instantaneamente falando: - - ô vocês pagaram a conta, mas eu é que tinha convidado. Nós dissemos que não, que foi um ótimo almoço etc e voltamos para o Congresso. Chegamos lá, começamos a sessão etc, encontramos com um grande amigo, aliás um grande deputado, um orgulho como deputado federal de São Paulo, que era o Pacheco Chaves. Ele sempre foi amigo, a esposa dele tinha até um certo parentesco, um relacionamento com a amiga da minha senhora. O Pacheco Chaves perguntou como fomos de almoço, nós dissemos que foi tudo ótimo e perguntou se foi tudo bem e se tínhamos ido sozinhos. Nós falamos:

- Não nós fomos com o nosso amigo, o Deputado Pacheco.

O Pacheco Chaves disse:

- Foi tudo bem? Ele que convidou vocês?

Respondemos:

- Ele nos convidou, nos apresentou o dono do restaurante bacana, o Ulysses vai todo para lá, pessoal camarada, whisky muito bom, vinho italiano também.

O Pacheco disse:

-  Beberam muito whisky? O deputado que convidou vocês bebeu bastante?

Falamos:

-  Bebeu bastante whisky, bastante vinho.

E o Pacheco, meio olhando de lado perguntou:

-  Escuta e o que aconteceu depois?

Dissemos:

- Não aconteceu nada. Depois da bebida, do whisky etc, o nosso colega parece que estava meio cansado.

Aí o Pacheco disse:

- Ah sei, ele começou a dormir, a roncar alto né?

Eu disse:

- É isso mesmo, ele roncava alto.

O Pacheco disse:

- Vocês aguardaram, aguardaram e quando vocês fecharam a conta ele acordou, não acordou? Então ele continua o mesmo. Isso todo deputado novo que vem para cá, ele dá o golpe da soneca. 

Eu disse:

- Puxa vida no meu primeiro dia aqui essa turma já começa a dar lição na gente. Ô Waltinho precisamos abrir o olho com essa turma aqui. Esse time é pesado, não vamos brincar em serviço. O que acontece aqui tem antecedentes, vamos conversar bastante com o Pachecão para saber como é que funciona esse tal de Congresso.

E assim foi o nosso primeiro almoço em Brasília.