Por Horácio Ortiz
Pouca gente sabe que muitos congressistas tiveram a infância no Bixiga
O Delfim foi nosso companheiro no DER. Pouca gente sabe disso. Ele inicialmente era Contador ou antiga profissão de Guarda Livros. Profissão antes modesta e não tão recriminada como hoje dos economistas, que alguns dizem que são inimigos do desenvolvimento e do país. Mas o Delfim era funcionário do DER no meu período, quando fui funcionário do DER, e o Delfim trabalhava numa salinha junto da oficina do DER na Mooca. O DER tinha uma mecânica de reparação de tratores na rua da Mooca por muito anos, e tinha uma salinha lá onde um sujeito gordinho e simpático com muitos livros, ele era o almoxarife da oficina do DER. E lá ficou muitos anos, conheceu sua esposa que era funcionária também do DER. Mas o Delfim teve essa vida, e posteriormente fez o curso superior com a nossa Faculdade de Economia e graças a sua capacidade, logo virou um professor, e saindo do DER virou um professor iniciando a sua profissão com esse brilho que conhecemos. Ele teve um período que foi Assessor Econômico da FIESP e lá manteve um círculo de relações que sempre o acompanhou e sempre o ajudou. Um dos degraus que subiu com sua capacidade, apesar de sua origem humilde, ele foi participou do governo do Laudo Natel. No Congresso tínhamos um relacionamento bom com o Delfim Netto e também com o (Hebert Levy?) da Arena e nós de qualquer forma mantínhamos um bom relacionamento.
O Hebert porque participava de todos os desfiles de Nove de Julho como o seu veterano, foi um dos heróis da Revolução de 32 e era muito bem quisto por todos os veteranos. Certa vez, quando éramos Deputado Estadual, a pedido da Associação dos Veteranos de 32, demos uma mãozinha em benefício desses nossos heróis Na Assembléia Legislativa de São Paulo apareceu um projeto de lei do Paulo Egidio Martins e a Associação dos Veterano de 32 pediu que eu interferisse, alterando esse projeto de lei. Esse projeto previa uma subvenção para os veteranos de 32, era uma quantia pequena, um ou dois salários mínimos, mas de qualquer forma tinha alguns veteranos passando dificuldades, e era lógico que o Estado deveria retribuir o esforço desses nossos heróis. Esse projeto entrou na Assembléia Legislativa e tinha somente três ou quatro artigos. Primeiro fixava essa subvenção mensal de dois salários mínimos para os veteranos de 32, muito justo. Mas o segundo e o terceiro artigo representava uma espécie de uma pecha, era um defeito que praticamente desfazia aquela boa vontade, aquela intenção de homenagear a categoria dos Veteranos. O artigo segundo dizia que para obter aquele pecúlio, os veteranos precisariam provar o estado de necessidade. Coisa absurda, mas estava no projeto como artigo segundo. O artigo terceiro, pior ainda, é que este estado de necessidade, essa penúria, precisaria ser comprovado através de um órgão do governo do Estado, Secretaria da Fazenda ou qualquer coisa semelhante. E quando o projeto de lei foi, nas vésperas de Nove de Julho, o projeto foi apreciado, estava na Presidência da Assembléia, o Deputado Natal (Gali?). Nesse período, nós do PMDB tínhamos a maioria na Assembléia Legislativa e eu estava na liderança, como Deputado da maioria. Então combinamos com o Natal Gali que era presidente da Assembléia a votação e combinamos que eu pediria o destaque. Assim foi feito, pedi os destaque do segundo e terceiro artigos, e na hora da votação, como votam os Deputados, eu simbolicamente pus o dedão para baixo negativamente nos dois destaques e eliminamos os destaques, o que deu muita alegria para esses veteranos de 32. O Hebert também me agradeceu isso.
O Hebert tinha uma pequena rusga com o Delfim. O Delfim com aquele jeitão e como era muito apadrinhado pela FIESP e etc, o Hebert Levy era da área bancária e eles tinham uma certa ojeriza. E numa certa época o Hebert resolveu puxar o tapete do Delfim. Levantou aquele famoso problema das polonetas, isso é, um negócio que o Delfim tinha feito quando era Ministro de fazer um acordo comercial com a Polônia, de trocar carvão com ferro, uma troca comercial com a Polônia em que o Brasil recebeu títulos da Polônia, a tais polonetas, e não sei porque esses títulos ficaram engavetados ou praticamente sem valor. O Hebert Levi queria pegar no pé do Delfim como responsável pela operação. Criou uma comissão de sindicância na Câmara e me colocou nela. Eu fiquei numa sinuca danada, afinal, a quem que eu vou? Eu vou ficar de mal com os dois. Os dois vão achar ruim. E não demorou muito o Delfim me procurou, dizendo:
- Ortiz você precisa dar um jeito naquilo. Aquilo não prejudicou em nada, é perseguição do Hebert. Aquele sujeito é muito rancoroso e tal.
Eu pensei, puxa vida vai ser uma chateação. Só sei que chegou no dia da votação do relatório, eu com a consciência muito pesada, não compareci na sessão e aconteceu que não deu número e a comissão foi encerrada praticamente sem relatório. Foi uma briga, e o Hebert Levi que era meu companheiro de jogar tênis, quase toda Quarta e Quinta-feira no Tênis Clube de Brasília, ficou louco da vida. Me xingou, me fez um rolo danado, e levou um tempão para voltarmos à boas e continuar a jogar tênis. Essa foi uma passagem triste, a gente não sabia atender os dois amigos e no fim levamos umas alfinetadas do Hebert Levi. Mas no fundo os dois eram muito trabalhadores, cada um no seu setor, sempre foram Deputados com dignidade e sempre engrandeceram o Congresso Nacional.
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