Por Horácio Ortiz
Conforme dissemos, o Rio de Janeiro deu uma demonstração de democratização, elegendo o índio Juruna por esforço do Brizola. Brizola fez questão de eleger o Juruna como Deputado Federal. E o Juruna por acaso se ........... num apartamento no meu prédio em Brasília e era muito amigo, conversávamos etc. E ele era insistente, um obstinado. Quase todo dia falava alguma coisa sobre a sua tese principal que era a discriminação das terras, a luta pela demarcação de terras indígenas no Brasil. Então todos os dias ele vinha com esse discurso e tal. E vira e mexe, quando tinha audiência com Ministros, Secretários etc, ele ficou famoso por não acreditar na palavra de ninguém e sempre levava um gravadorzinho a tiracolo, e quando perguntado sempre respondia:
- Só acredito em branco com palavra gravada. Branco não tem palavra p’ra índio.
E o Juruna continuou a sua luta lá e etc.
E o que aconteceu foi que quando as eleições se aproximaram e houve o movimento de renovação política, movimento de diretas, aconteceu um fato interessante. Naquele período pré votação das eleições, da votação pelo Congresso da eleição indireta para a Presidência da República, o Congresso passou por vários meses naquela tensão nervosa, as oposições pressionando, acusando etc e o governo se defendendo como podia. E a gente ia acompanhando aquela discussão entre as ................... do governo, que o Maluf estava corroendo por baixo a candidatura do Andreazza que era o candidato natural dos generais que queriam mais um candidato general para a sucessão do Figueiredo. E com a gente todo dia o que acontecia é o seguinte, todo dia tinha uma onda que fulano e sicrano tinha passado, porque o Maluf passou pelo Andreazza e foi indicado pela Arena como candidato à Presidência da República, e durante aqueles meses cada dia surgia mais uma notícia no Congresso. Olha o fulano tal, o Deputado de tal Estado Malufou, no dia seguinte vira e mexe vinha uma outra notícia de um outro Estado, o fulano lá de tal Estado Malufou. E assim nós estávamos preocupados porque o PMDB lutando e tal, fazendo discursos, metendo o cacete na Revolução etc e cada dia passava essa notícia. Até que surgiu um a notícia um pouco diferente. Disseram: - Olha o Juruna também Malufou.
Nossa, aquilo para nós foi um choque, porque afinal o Juruna era o líder da bancada do PDT na Câmara Federal, era o homem símbolo da oposição no Estado do Rio, o Brizola andava vira e mexe com ele e tal. Então fizemos um movimento para convencer o Brizola para pressionar o Juruna, porque se afinal aquilo fosse realidade era um desfalque grande, tinha um significado ali muito sério com a bancada do Rio e
- Coitado ele disse que a mulher dele estava doente e ele precisava daquele dinheiro. Então eu peguei e disse para ele que compreendia a situação dele, então para eliminar o problema eu peguei dei mais cinquenta mil para ele para depositar no banco em nome do Maluf . Ele me prometeu que depois de amanhã ele vai fazer isso. Todo mundo ficou animado, disse:
- Puxa vida afinal o Brizola funcionou e o Juruna é índio etc mas é um cara meio ..............., tem princípios etc, uma necessidade de família justifica o negócio.
E foram aguardar os dois dias. E a turma tem um sistema de espionagem bem organizado lá no Congresso, então aquela agência do Banco do Brasil, aqueles funcionários são todos relacionados com Deputados, Senadores etc. E aí no dia, aquele bruta aparato e tal, aguardando, e o Juruna chegou lá todo pomposo, pegou e fez um depósito lá, depositou na frente de todo mundo, tiraram fotografias da pose dele e foram embora. Só que depois de uma hora mais ou menos veio a notícia, todos nós estávamos contentes etc, o funcionário leu o depósito do Juruna. Ele depositou só vinte no nome do Maluf . Quer dizer que ele embolsou além dos cinquenta mil iniciais mais trinta mil do Brizola. A gente ficou pensando: - puxa vida, esse bicho vem da floresta lá de Mato Grosso, não teve escola primária, nem secundária, nem nada, mas como são vivos esses índios. Dão lição para todos esses Deputados que estão aqui há muito tempo. E nós ficamos pensando: - puxa vida, como esse negócio aqui no Brasil está pesado. Até os índios dão lição para o resto da população.
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