Por Horácio Ortiz
O período final da legislatura estadual nos foi favorável porque realmente foi ajudado pelas declarações do Presidente Figueiredo, com aquelas famosas frases como: “prefiro cheiro do cavalo do que do povo” e outrasmais. A situação da Revolução estava visivelmente enfraquecida e a campanha era favorável. Toda a população era contra a ditadura. Isso pelo Brasil todo. Então, naquele período na Assembléia Legislativa tivemos vários episódios em que realmente pudemos dar destaque.
Um fato que chocou muito a opinião pública
Outro trabalho importante que desempenhei também, foi a luta contra a implantação do Aeroporto de Caucaia. Um aeroporto absolutamente inconveniente em termos de projeto, de execução e conduzido de forma trabelhária pelo Governador, que queria, com interesses escusos. Era uma obra caríssima, conforme nós provamos na Comissão de Inquérito, e que não justificava-se naquela época, porque Congonhas resistiria por uns quatro ou cinco anos, e atenderia ao mercado e o sistema de aviação da região.
Esses dois fatos me foram favoráveis. Eu estava animado que realmente teria uma boa votação, como realmente tive, cerca de oitenta mil votos, e trabalhando sozinho como oposição, sem gastar dinheiro. Simplesmente em decorrência do trabalho político que tinha feito na Assembléia Legislativa.
As eleições de 1978 foi ...... geral no País, em que a oposição ou PMDB, conseguiu vários governos estaduais e grande maioria das Assembléias Legislativas, como foi
As eleições de 1978 tiveram certos aspectos interessantes e divertidos. Por exemplo, lideranças novas surgiram como uma reação da população. No Rio de Janeiro, o Brizola que era Governador, quis eleger e elegeu com grande maioria, um representante índio, o famoso Juruna. O Juruna foi candidato pelo Rio de Janeiro, uma cidade culta, das capitais do País muitos anos, elegeu o Juruna com grande votação. Em contraste com a população culta do Rio que elegeu o Juruna, o Mato Grosso que era um Estado mais ou menos agrário ou pouco desenvolvido, elegeu o Senador Campos, que era um grande intelectual e praticamente teve o seu reconhecimento por esta eleição por Mato Grosso. Mas esse período inicial em Brasília foi para nós aquele deslumbramento e para lá foram algumas passagens interessantes.
Um dia, passando aqui
- Eu vou desfilar em Brasília com este bicho! Afinal lá a gente vai andar pouco, é só do Congresso ao restaurante e ao apartamento. Esse bicho bebe muita gasolina, mas não vai me dar prejuízo e tem um status bonito.
E realmente fui no posto e fechei negócio com o “fordão” que tinha motor V8, estava em muito bom estado, pintura impecável, estofamento novinho, pneus bons, motor funcionando muito bem, ar condicionado, rádio muito bom e era propriedade de um médico que pôs à venda. Nós adquirimos aquele “fordão” e demos umas voltas aqui
A nossa viagem para Brasília também foi muito divertida. Eu tive contacto com um colega também eleito deputado federal, o nome era Walter Gama, o Waltinho, eleito por São Bernardo. Ele era genro do Grilo, que era Prefeito de São Bernardo. O Waltinho era grande sujeito, muito amigo, companheiro e foi um grande companheiro lá em Brasília também. Então marcamos um dia e eu e o Waltinho saímos de casa em direção a Brasília com o “fordão”. Nossa viagem teve um grande imprevisto, porque saímos de São Paulo, pegamos a via Anhanguera até a divisa de Minas, de lá pegamos o Triângulo Mineiro rumo à Brasília, via Catalão que era uma rodovia nova ligando Brasília ao Triângulo Mineiro. O nosso “fordão” comia uma gasolina danada e fomos seguindo. Sei que lá pelas tantas da estrada, começaram a ralear as cidades e os poucos lugarejos que tinham na marginal praticamente não tinham nada, eram botecos com café e não tinha posto de gasolina nenhum. Eu comecei a ficar assustado porque ainda faltavam uns 150 kms para chegar em Brasília e a gasolina já estava meio que encostando no zero. Eu pensei e disse:
- Como é que eu vou sair dessa?
Aí quando chegamos na frente, uma cidadezinha um pouco maior, mas sem posto de gasolina nenhum. Eu resolvi apelar. Entrei na cidade e procurei até encontrar uma farmácia. Na farmácia olhei nas prateleiras etc, vi vários litros de álcool e pensei cá comigo: vou resolver o problema do próálcool aqui no Triângulo Mineiro e já que o meu “fordão” não está adaptado vai ter que beber álcool de qualquer jeito senão não vamos chegar
- Se não for isso aqui nós não vamos chegar em Brasília hoje. Vamos ter que pousar na estrada porque já está escurecendo.
Tocamos o álcool, o bicho pegou até com um barulho bonito e pisamos fundo. Até parece que o álcool dava maior potência ao motor. Ele corria para burro. E sobe e desce e tal, estrada nova e boa e tal e tal, fomos andando, rezando etc. Não chegamos em Brasília a não ser 10 kms de Brasília que tinha outro posto. Mas afinal chegamos em Brasília com o “fordão” corajoso, meio bêbado etc mas aguentou o tranco bonito.
Em Brasília no dia seguinte fomos lá num Posto fizemos uma lavagem no tanque do nosso alcoólatra recente que era o nosso “fordão” e limpamos alguma coisa, carburador, a bombinha de gasolina etc porque nós sabíamos que o carro não era adaptado e esse era o ponto fraco. O álcool ataca aquelas fundições desse processo de adução de gasolina para o motor e o bicho ficou em ordem e voltamos para Brasília. Quem chega em Brasília como eu e o Waltinho, chegamos deslumbrados, porque eu conhecia Brasília mas estava devendo um certo compromisso porque fui convidado para a inauguração de Brasília. Tinha uma turma de colegas engenheiros do Instituto de Engenharia, que fizeram uma caravana, mas eu comodamente fiquei aqui para assistir a inauguração, que foi um grande trabalho, uma demonstração de capacidade administrativa de JK. Mas aquele tempo, teve infelizmente alguns anos antes, o JK tinha uma certa oposição àquela bateria da UDN malhando o governo dele noite e dia, tinha algum certo efeito sobre a população. Também algumas passagens do sistema de construção etc. Então tínhamos um débito com Brasília, mas chegamos lá e logo fomos para um hotel, nos instalamos etc e ficamos programando como seria a nossa estreia na semana seguinte. Lá no Congresso começariam os trabalhos legislativos. E aconteceu uma passagem divertidíssima que foi no nosso primeiro dia em Brasília. É uma história que eu não esqueci porque caracterizou o nosso primeiro dia no Congresso.
Chegamos lá no Plenário, respiramos fundo etc, aquele ar condicionado muito frio e eu mal acostumado. Aqui
- Não nós fomos com o nosso amigo, o Deputado Pacheco.
O Pacheco Chaves disse:
- Foi tudo bem? Ele que convidou vocês?
Respondemos:
- Ele nos convidou, nos apresentou o dono do restaurante bacana, o Ulysses vai todo para lá, pessoal camarada, whisky muito bom, vinho italiano também.
O Pacheco disse:
- Beberam muito whisky? O deputado que convidou vocês bebeu bastante?
Falamos:
- Bebeu bastante whisky, bastante vinho.
E o Pacheco, meio olhando de lado perguntou:
- Escuta e o que aconteceu depois?
Dissemos:
- Não aconteceu nada. Depois da bebida, do whisky etc, o nosso colega parece que estava meio cansado.
Aí o Pacheco disse:
- Ah sei, ele começou a dormir, a roncar alto né?
Eu disse:
- É isso mesmo, ele roncava alto.
O Pacheco disse:
- Vocês aguardaram, aguardaram e quando vocês fecharam a conta ele acordou, não acordou? Então ele continua o mesmo. Isso todo deputado novo que vem para cá, ele dá o golpe da soneca.
Eu disse:
- Puxa vida no meu primeiro dia aqui essa turma já começa a dar lição na gente. Ô Waltinho precisamos abrir o olho com essa turma aqui. Esse time é pesado, não vamos brincar
E assim foi o nosso primeiro almoço em Brasília.
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